São tantas as lembranças, seria injusto dizer que é possível escrever uma vez neste blog e contar tudo...
Vamos por partes, meu nome é Luciana, sou filha da Vera, neta da Luci e do Elias, bisneta da Rosa e do Piero. A casa fica na esquina da Conselheiro Sinimbú, tinha o armazém, até vó Luci quebrar a perna (1987), depois virou a Locadora de vídeos do Jorge.
Os morretenses (ou morreteanos) provavelmente não lembram de mim, não da Luciana, mas muitos devem lembrar da neta do Elias. Uma menina “reforçada” que ia para o sítio tirar leite de vaca, vestida como o avô, de bota e chapéu em uma Caloi Ceci preta. Eu era a sombra do “seu” Elias nos finais de semana, feriados e férias escolares.
Nasci em Curitiba, estudei em Curitiba, mas felicidade mesmo era abrir a porta da casa da Conselheiro Sinimbú, sentir o cheiro da posta ou do pato que cozinhava na panela de ferro e correr pelo corredor escuro, fazendo um barulhão nas tabuas do assoalho e abraçar a vó pela cintura, sentir o cheirinho bom que só a vó Luci tinha.
Passei a ficar sem meus pais em Morretes, durante as férias, quando tinha nove anos. Desde então, estudava muito pra não pegar recuperação e não perder um só dia em Curitiba. Chegava ao cúmulo de não esperar que meus pais me levassem de carro para Morretes, pedia para ir de ônibus, só pra não perder tempo e o vô estava sempre lá me esperando.
Não tinha felicidade maior que calçar minhas botas e ir para Barreiros ajudar o vô, eu sempre achei que quem cuidava dele era eu e não o contrário... com nove anos, aprendi a cuidar das vacas, a tirar leite... quando matavam porcos no sítio, eu já estava lá para colher o sangue pro chouriço, ajudar a pelar o coitado e “ver como eles eram por dentro”, era a minha festa, bem longe dos muros do Colégio de freiras... aquele do Cajuru, onde a Tia Luisa (Scucato) já tinha estudado, a filha dela Sueli também, que assim como eu, tinha sido alfabetizada pela mesma e eterna irmã Yolanda...
Meus sonhos nunca foram banais, sempre quis correr-mundo, estudar e ser famosa... não famosa de BBB, como as meninas sonham hoje. Eu sempre quis ser famosa por alguma descoberta, por alguma nova teoria que mudasse a maneira como vemos o mundo, ou por algum livro que eu viesse a escrever. Mas nesses sonhos sempre estavam meus avós e Morretes, eu sonhava em fazer tudo isso e voltar sempre pra casa e pro sítio, onde eu fantasiava que nada mudaria nunca, como se Morretes não acompanhasse o tempo... é isso!
Pra mim, Morretes sempre foi um lugar fora do tempo e do espaço, por isso a cidade sempre estaria protegida (eu lembro que morria de medo da palavra PROGRESSO, era meu desespero... porque na minha cabeça, onde esse PROGRESSO chegava tudo ficava cinza e morto).
Nas minhas fantasias o tempo não importava, sempre existiriam as conversas animadas na calçada com a Dona Nezinha (filha da Dona Izolina), vó Luci sempre estaria na janela conversando com todos que iam ao Banestado. O Renato Bittencourt sempre venderia doces, o Lulu Gnatta sempre pararia o jipe willis verde na beira da calçada e entraria com a Jandira fazendo festa pelo corredor... A Dona Maria Petersen sempre traria o licor de pêssego e de figo que eu adorava, o vô sempre contaria o que se comentava na barbearia do Dival e que o Foed da loja de tecidos tinha mandado abraço pra todos...
Quis a vida que os meus delírios não durassem muito... Quando fiz quinze anos, vó Luci cochilou em frente a tv, naquela lombeira da tarde, e não acordou mais. Parte da magia tinha acabado, mas o pior ainda estava por vir. O vô ficou tão triste e perdido que não tinha mais gosto em continuar por aqui... assim, onze meses depois, um infarto fulminante derrubou o polaco e, infelizmente, fui eu quem o resgatou do chão já morto.
Quando você perde o amor da sua vida e a sua referência da mais pura felicidade, você precisa escolher entre: a apatia ou correr atrás dos sonhos que restaram, porque um sonho sempre puxa outro... e é exatamente o que faço: corro atrás de sonhos.
Vou muito pouco a Morretes, a sensação é estranha, uma alegria imensa ao sentir “o cheiro de Morretes” misturado à tristeza doída e a lembrança dos dias mais felizes da minha vida. Sempre que volto é um resgate, resgate de todas as memórias dos sentidos, dos cheiros, dos sabores, das texturas, das paisagens....
Hoje vivo no Rio de Janeiro, buscando resquícios de um mundo perdido há 100 milhões de anos, estudo fósseis de árvores que foram incendiadas pelos vulcões que existiram na Terra na época de quebra do Gondwana... Na época em que a Antartica era coberta por uma floresta luxuriante e os dinossauros andavam por aí. Meu trabalho nada mais é que a busca de uma realidade extinta. E por onde passo, a despeito da carteira de identidade, todos sabem que Luciana Witovisk é do Paraná, de Morretes!
Abraços a todos e agora com a devida apresentação, passarei a escrever os “causos” que os morreteanos tanto gostam.... aguardem! :D (Luciana Witovisk)

Um comentário:
Vixe Lu a sorte é que vivemos o lado bom da história porque hoje nada mais resta. Bjs
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